segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Ônibus circularão até de madrugada nos bairros mais boêmios de Salvador, anuncia secretário de Desenvolvimento

Entre as novidades, o projeto Ruas do Lazer será expandido para 12 bairros populares


Além dos projetos anunciados no Fórum Agenda Bahia, o secretário municipal de Desenvolvimento, Turismo e Cultura de Salvador, Guilherme Bellintani, tem outras ações programadas para Salvador. Em entrevista ao CORREIO, o secretário reconheceu que pouca coisa poderá ser feita até a Copa do Mundo, mas é otimista ao falar em uma “nova fase” da cidade.
Bellintani aposta em um novo calendário com 30 grandes eventos em Salvador, desde os mais tradicionais até novos festivais que serão criados ou ampliados em diferentes espaços. Entre os modelos de requalificação dos equipamentos turísticos, o secretário revela que o Museu Náutico será modernizado: o público poderá interagir com informações sobre os 450 anos de navegação em Salvador.

Secretário Guilherme Bellintani acredita que o maior valor que a cidade  pode passar para o turista é a cultura
As novidades também passam pela mobilidade urbana. No projeto de licitação das novas linhas de ônibus, a Secretaria de Turismo mapeou bairros mais boêmios e pediu a circulação de ônibus até de madrugada. Segundo Bellintani, a proposta é também estimular a ocupação das ruas pela população: além do Vai de Bike, o projeto Ruas de Lazer ocupará 12 bairros, com programação de cultura e lazer, inclusive em bairros populares, como Pernambués.
No ano que vem, pela primeira vez, Salvador será sede de uma Copa do Mundo. Além do Mundial, Salvador terá pelo menos mais três grandes eventos: o Carnaval, o Carnaval na Copa e o São João. Como a cidade está se preparando para esses eventos?
Em primeiro lugar, Salvador está passando por um processo de reorganização da base primária da sua estrutura física, material. A cidade está retomando requisitos básicos da qualidade urbanística: melhorando a limpeza, manutenção, iluminação, pavimentação, etc. Em segundo lugar, já para a Copa, Salvador vai dar um salto qualitativo em relação a sua estrutura física, não só com essas melhorias básicas, mas também outros projetos urbanísticos, como a requalificação da orla, o que vai ser positivo para o turismo e para a cidade.
Desses projetos para a orla, o que poderemos dizer que ficará pronto até a Copa?
A requalificação da orla na Barra vai ficar toda pronta já para a Copa do Mundo, além de uma primeira etapa do Rio Vermelho, que vai da Rua da Paciência até a Praça Colombo, em frente à churrascaria Fogo de Chão. O bairro contará com requalificação completa, incluindo reurbanização e mudança total da infraestrutura, com a construção de piso compartilhado entre veículos e pedestres.
E além do espaço físico?
Há um terceiro elemento, não menos importante, que é o aspecto material da cidade – de como a cidade vai se movimentar para além do espaço físico. A gente sabe que o grande patrimônio de Salvador não é apenas o seu patrimônio material. O grande valor da cidade para o turista é a sua cultura. Nesse contexto, a gente entra no terceiro aspecto, que é o lado imaterial, que precisa ser retomado. E isso vai acontecer com um viés absolutamente ligado à história e à cultura da cidade.
Mas o que é essa retomada?
Por exemplo, o nosso calendário de eventos. Serão 30 eventos por ano: dez deles para as festividades tradicionais, ligando profano e sagrado. Esse é o projeto Fé na Festa, que envolve eventos de largo e caminhadas. Além desses, temos o projeto Cidade dos Festivais, que inclui 10 festivais por ano, como o Festival da Primavera que realizamos este ano e será ampliado no ano que vem. Há também o Festival do Samba, cuja primeira edição será realizada no final de novembro. Faremos ainda dois festivais internacionais: o Festival da Cultura Latina, em maio, no Pelourinho, e o Festival Internacional de Música, em outubro, com palcos em cinco bairros diferentes da cidade.
O senhor disse recentemente que Salvador não está gastando sequer um centavo com promoção turística lá fora, por não ter dinheiro. Como atrair gente para esses festivais assim?
Mas no ano que vem a secretaria já terá orçamento bastante maior e esses projetos estão todos garantidos.Para cada evento, teremos uma estratégia específica de promoção.
O senhor pode dar um exemplo?
O Festival da Cultura Latina precisará de uma promoção continental. Agora no final do ano, duas pessoas da secretaria viajarão pelas capitais de países latino-americanos – já estão com viagem marcada – para fazer essa promoção junto às embaixadas e ao trade turístico. Esse é um evento. Outros eventos, como o Reveillon, terão foco nos meios de comunicação de massa mais clássicos. E assim por diante.

O Museu Náutico será modernizado e os fortes do Porto da Barra ganharão os museus Carybé e Pierre Verger
E além desses festivais, o que o senhor está prevendo?
Aí é que entramos no que entendemos como um quarto elemento: infraestrutura turística complementar para turistas que não querem vir à cidade durante os eventos ou para aqueles que vêm durante os eventos, mas querem fazer outras coisas. Teremos 12 equipamentos turísticos simbólicos para a cidade e que estão hoje ou inexistentes ou abaixo da expectativa para o funcionamento deles.
Por exemplo?
No Farol da Barra, já conseguimos recursos para qualificar o Museu Náutico. A ideia é transformar o museu de referência náutica. Um turista que quer fazer mergulho na cidade hoje tem dificuldade para ter informação sobre onde há mais naufrágios, quais são os lugares melhores para o turismo subaquático, etc. Com a previsão de investimento de R$ 960 mil, o museu terá essas informações também.
Quais são as outras novidades do Museu Náutico?
Terá sistema interativo, trabalhando muito com LEDs, TV de plasma. Hoje, uma informação que o turista encontra por meio de uma carta cartográfica, ele conseguirá ver isso via touchscreen. Faremos um museu mais interativo, para crianças inclusive, nos moldes dos museus mais modernos do mundo inteiro. O museu será potencializado de modo a se tornar uma referência da vida náutica de Salvador e para o turismo nessa área. Salvador tem uma história de 450 anos de navegação e não traz isso à tona no museu como pode trazer.
Falando em Copa do Mundo, o turista que virá exige uma qualificação ainda maior. Esses projetos, como o Museu Náutico, incluem essa preocupação com a qualificação dos trabalhadores? 
Eu vou ser sincero. O que estou dizendo não é o que geralmente os secretários do Turismo dizem. Isso é algo que me preocupa menos do que preocupa a maioria das pessoas. A falta de qualificação local é, sim, um problema, mas não podemos fazer com que ela castre as nossas possibilidades de ir além. A falta de qualificação do turismo local é a falta de qualificação da nossa população em geral. A gente dificilmente vai ter uma qualificação do receptivo turístico sem que o resto da população esteja qualificado para diversas outras coisas. Acredito que outras coisas devem avançar e trazer essa qualificação ao mesmo passo em que ocorrem.
O senhor quer dizer, então, que elas vão se qualificando à medida que atendam o turista, na prática?
Exatamente. Na prática é isso. Não existe essa concepção de você criar um batalhão de receptivo turístico qualificado para depois trazer o turista.
Mas falando no turista estrangeiro... Um profissional pode até aprender a falar umas palavrinhas, mas não vai aprender inglês ali, só na prática...
Eu sou um cara que tem inglês bastante limitado, mas que estive em Tóquio, na Índia, na Turquia, na Europa, Austrália e Nova Zelândia e boa parte da América Latina... Fiz tudo isso sem falar bem o inglês. Estive em países, como a China, em que a dificuldade de comunicação era quase absoluta. No entanto, voltei de grande parte dessas viagens com ótimas impressões. O que faz falta é um sistema de transporte mais qualificado, um sistema de informações mais qualificado. Achar que a gente vai ensinar um taxista a falar “Olá, obrigado” e achar que isso vai ser suficiente e determinante na qualidade do turista aqui... isso não vai. Isso é complementar, é importante, mas costumo dar um peso menor a isso do que as pessoas dão. Sou contra essa percepção de que todo o trade turístico, o taxista, a baiana de acarajé e o comerciante precisam falar inglês para receber bem o turista. Isso é bom que aconteça, mas se não acontecer não é uma tragédia.
Então, não haverá investimento em qualificação?
Não é isso que estou dizendo. Haverá recursos, sim. Mas estou dizendo que se você for olhar, há um investimento histórico muito grande nisso. Estou dizendo que para um taxista entender o inglês de fato, ele tem que ficar durante dois anos, tendo aula pelo menos três vezes por semana e três horas por dia. A não ser que tenha tido uma base boa de inglês na educação básica. Não é que a gente deva abandonar projetos como esse, mas a gente não deve colocá-los como a salvação do turismo baiano ou brasileiro. É um pouco ilusão achar que essas pessoas vão falar um inglês razoável com um curso de 40 horas. É vender terreno na lua.
Que outros projetos estão previstos? 
O Arquivo Público Municipal, um dos arquivos mais importantes das Américas, que hoje está no subsolo da Fundação Gregório de Matos (FGM), vai ganhar uma casa à altura do que merece. Vai ficar em um prédio que estamos resgatando perto da Praça da Sé. Além disso, o Forte de Mont Serrat, que vai virar o Museu dos Azulejos, vai abrigar azulejos históricos, vários perdidos e espalhados pela cidade, e o próprio Memorial Irmã Dulce, que estamos ajudando na reconfiguração, além da Casa de Jorge Amado.
E vai dar tempo de ficar tudo pronto até a Copa do Mundo?
Tudo não. Parte disso, sim, vai ficar. Alguns são prédios tombados pelo Iphan, o que faz o processo demorar um pouco mais.
O senhor tocou na questão do transporte público, essencial para uma boa avaliação do turista. Como isso está sendo visto pela secretaria?
Na nova licitação de ônibus para a cidade, tem algumas demandas do turismo e da cultura. Uma delas é a questão do transporte à noite. Vários eventos ficam prejudicados porque o transporte quase não existe depois da meia-noite. A nova licitação vai incluir isso obrigatoriamente. Ônibus à noite, de madrugada, inclusive. Mapeamos os bairros com maior tendência boêmia, como Rio Vermelho e Pelourinho, e levamos isso para a licitação. Os projetos culturais da cidade precisam ser bem servidos de transporte. Não achamos que de uma hora para outra vamos ter bom transporte público, mas estamos otimistas e cremos que já para 2014, vamos ter uma melhora significativa.
Recentemente a prefeitura lançou o Salvador Vai de Bike, que tem um bom apelo turístico. Mas para isso não será necessário ampliar as ciclovias?
Temos um projeto de ciclovias bastante ousado. As mudanças na Barra e no Rio Vermelho, por exemplo, incluirão ciclovias. Mas, para além da questão da bicicleta, é preciso destacar a nova fase que já começamos a estimular de ocupação das ruas pela população. Dos 30 eventos que vamos realizar, todos vão ser realizados nas ruas. Gratuitos e abertos, sem cobrança de ingresso. A ideia é ocupar espaços que não estão sendo utilizados, como foi o caso do Festival da Primavera, no Rio Vermelho.
O que está previsto?
Temos o projeto Viva Rua, que ainda não divulgamos, mas é uma evolução das Ruas de Lazer. Esse projeto que já existe na cidade há cerca de 15 anos: fecha as ruas da Barra e do Dique, por exemplo, aos domingos. Nós vamos ampliar esse projeto. Além de fechar as ruas, vamos organizar vários eventos de cultura e de lazer em 12 bairros diferentes. Isso vai mudar a relação do cidadão com suas ruas. Entre os bairros, estão alguns mais populares, como Pernambués. A ideia é melhorar a qualidade de vida, aumentando o convívio social nos bairros.
A prefeitura está disposta a enfrentar as críticas de quem usa carro, sobretudo?
Sim. Faz parte dos desafios. Não se fazem omeletes sem quebrar ovos. Tirando 10 carros das ruas, a gente coloca 100 pessoas num lugar. Temos que dar prioridade à maioria, não à minoria. Cerca de 90% dos carros que transitam na cidade levam apenas uma pessoa. O projeto Viva Rua vai ousar muito nesse aspecto. Isso será feito nos domingos.

Fonte: Correio24h

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